CREPÚSCULO SERTANEJO


Cai a noite. Um rubor fulge atrás da colina,
cuja sombra se alonga a pouco e pouco, enorme.
A velha árvore, além, verde nuvem, se inclina
para o chão, balançando o vulto desconforme.

É uma nota profunda a vibrar na surdina
das cores e da luz, no amplo vale que dorme.
No silêncio feral, que é uma vaga neblina
de sons, passa-lhe a voz como um borrão informe.

Sob a copa uma forma em cinza se desmancha.
Um boi cansado busca a figueira cansada;
muge, e deita-se, em paz, numa violácea alfombra.

Muge. A fronde e o animal fazem uma só mancha;
o mugido e o rumor da fronde, a mesma zoada.
Manchas de som... Zoadas de cor... Silêncio. Sombra.

Amadeu Amaral

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