JESUS MORENO

Na hora em que veio o menino moreno,
Nem mesmo fiapos de linho, d’algodão,
De um velho encerado, um pedaço pequeno
Se fez de lençol estendido no chão.

Seu pai, recurvado, riscava n’areia;
Sua mãe, alquebrada, tristonha, caída,
A fome maldita estreita-lhe a veia,
Secando, em seus seios, a seiva da vida.

E as outras mulheres que vinham apressadas,
Com água do fundo do rio Pajeú,
Coseram umas vestes de saias rasgadas
Com agulhas d’espinhos de mandacaru.

Jesus Sertanejo nasceu n’emergência
Da seca inclemente do alto sertão,
Seu berço tão pobre, guardando a inocência
Se fez da dureza de um carro de mão.

Nem teto de palha, nem teto de telha,
Nem fogo nas trempes, nem tacos de pão,
Debaixo da luz mortiça e vermelha
De um sol que morria num céu de verão.

Rafael Santos Barros

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